My Friend Michael (01)

'Em um dia frio, no outono de meu quinto ano, sentei-me na sala de estar da minha família para brincar com a minha limousine de brinquedo. Eu estava obcecado com aquela limousine, da forma como crianças tendem a ser com seus brinquedos favoritos, e quando meu pai me disse que eu iria ao trabalho com ele naquele dia, a fim de encontrar um amigo seu, minha primeira preocupação foi que eu pudesse levar comigo o carrinho, o qual segurava firmemente em minhas mãos.

Eu nunca tinha ouvido falar de Michael Jackson, então quando meu pai me disse o nome da pessoa que estávamos prestes a encontrar, eu não me importei. Eu estava feliz em sair da casa e orgulhoso de acompanhar meu pai em seu trabalho. Mantinha comigo a minha limousine. Claro que eu não tinha ideia na época o quão importante esse encontro iria revelar-se - a ponto de ser um marco em minha vida.

Ainda assim, por algum motivo eu me lembro claramente o dia, até o que eu estava usando: calça azul-escuro, uma blusa azul, uma gravata borboleta e um calçado com pequenas aberturas frontais. Não sei exatamente se era um vestuário típico para um garoto de quatro anos de idade, pelo menos nos últimos cem anos. Eu estava sempre vestido impecavelmente, meu pai era da Itália, a capital da moda do mundo. Eu tinha cabelo curto e reto. Um garoto elegante e amante das limousines. 

Na época, meu pai estava trabalhando no Helmsley Palace, em Manhattan. O Palace era um hotel 5 estrelas com uma clientela de elite exclusiva. Meu pai era o gerente geral das torres e das suites de luxo, os quartos VIPs do hotel. Para mim, o hotel sempre foi um lugar mágico. Talvez tenha sido a energia vibrante das pessoas que estavam de passagem, cada um com um propósito único e grandioso. Naquela época eu não poderia começar a entender tudo o que estava acontecendo, mas eu podia sentir a excitação pulsante no ar. Até hoje eu ainda me lembro do cheiro de lobby e a onda de excitação que me trouxe. Eu amo hotéis. 

Meu pai e eu fomos até um elevador e caminhamos em direção a um quarto de hóspedes, em frente do qual fomos recebidos por um cara que eu mais tarde conheci como sendo Bill Bray, que na época era gerente de Michael Jackson e chefe de segurança. Bill Bray foi uma figura paterna de sorte para Michael. Ele tinha trabalhado com ele desde os tempos da Motown e iria ficar com ele como um conselheiro de confiança por muitos anos. Bill era afro-americano e usava barba, e naquele dia usava um chapéu fedora.

Nos próximos anos, eu veria muitas vezes Michael andando atrás dele, imitando o seu caminhar descontraído. Bill cumprimentou calorosamente o meu pai. Pareceu-me que ele e meu pai já eram amigos. Bill levou-nos para o quarto do hotel. Estava vazio, como se ninguém estivesse hospedado lá. Na verdade, dado o que eu sei agora sobre os hábitos de Michael, é claro que o quarto não era, de fato, o que ele estava usando: ele tinha chegado a este quarto especialmente para esta reunião porque não nos conhecia bem o suficiente para nos convidar para sua suíte. Embora muitas vezes Michael estendesse a mão para os outros, ele sempre criou um espaço de proteção entre ele e as pessoas que ele conhecia.

Michael levantou de uma cadeira para nos cumprimentar. Ele não parecia excepcional para mim. Aos quatro anos, as únicas distinções que eu realmente traçava entre as pessoas era se eles fossem adultos, adolescentes ou crianças como eu. "Hey, Joker" disse Bill. "Temos Dominic e seu filho aqui para ver você." Mais tarde eu entenderia que Bill chamava Michael de "Joker" pela razão óbvia de que Michael estava sempre 'pregando peças' nas pessoas. Michael me deu um grande sorriso, tirou os óculos escuros e apertou minha mão. Ele era, aos 27 anos de idade, um artista de renome mundial e seu mais recente álbum, Thriller, era o álbum mais vendido de todos os tempos - um recorde que ainda se mantém, conforme registros.

Uma vez que havíamos sido apresentados, Bill Bray saiu e meu pai, Michael e eu ficamos na sala vazia, apenas conversando. "Você tem um pai tão maravilhoso" Michael me disse. Ele repetiria isso muitas vezes nos próximos anos, e eu sei que foi por causa da impressão especial que meu pai havia causado nele que ele queria conhecer o resto de sua família. As pessoas ficam sempre imediatamente confortáveis em torno de meu pai. Ele irradia honestidade e sinceridade do seu interior.

Em seguida, Michael e eu começamos a falar sobre desenhos animados. Eu lhe disse que amava Popeye, e eu tive a honra duvidosa de apresentá-lo ao Garbage Pail Kids - meu irmão e eu colecionávamos os cartões. Michael sabia como falar com as crianças, ele estava genuinamente interessado em meu pequeno mundo, e eu devo ter gostado dele, porque me lembro dirigindo minha limousine de brinquedo sobre a sua cabeça e ombros, e para baixo dos seus braços. Ele pegou o carro de mim e o fez voar sobre minha cabeça como um avião, fazendo sons de avião.

"O que você quer ser quando crescer?" Michael perguntou. "Eu quero ser como Donald Trump" eu disse, "mas com mais dinheiro." Meu pai riu. "Dá pra acreditar?" Disse. "Donald Trump não tem muito dinheiro" disse Michael. Então, meu pai pediu para tirar uma foto de mim e Michael. Eu subi em seu colo e passei meus braços em torno de seu queixo. Sorri, e nós tiramos uma foto.

Frank mantém a limousine em sua mão...
Frank fotografa Michael
Então essa foi a primeira vez que encontrei Michael. Anos mais tarde, ele iria mostrar esta fotografia para as pessoas, dizendo: "Você pode acreditar que é Frank?" A informalidade descontraída da imagem - nossos sorrisos, uma mecha escura de cabelo escapando no meio da testa de Michael - é a ocasião que me vem em retrospecto. Passamos cerca de uma hora com Michael naquele dia, e quando o deixamos ele nos disse que iria chamar-nos na próxima vez que ele estivesse em Nova York, e que ele gostaria de nos ver novamente.

Viajando de carro de volta para New Jersey, meu pai olhou para mim no banco de trás e disse: "Você não tem ideia de quem você acabou de conhecer."

Aquele primeiro encontro entre Michael e eu ocorreu por causa do valor que Michael dava ao meu pai: quando ele ficou no Palace Hotel, meu pai sempre cuidou dele. Era o trabalho do meu pai no Palace e ele era bom nisso. Ele garantiu que quando Michael viesse, sua suíte preferida estaria disponível para ele. Se Michael quisesse uma pista de dança em seu quarto, meu pai a faria. Quando Gregory Peck estava hospedado no hotel e Michael queria conhecê-lo, meu pai fez isso acontecer. Ele supervisionou a segurança para idas e vindas de Michael desde o hotel. Ele era atento aos mais pedidos mais pequenos, como alimentos especiais. Ele saía do habitual para certificar-se de que Michael tinha tudo o que ele precisava ou queria.

Michael e Dominic Cascio (pai de Frank)
Michael sabia dessas coisas sobre meu pai e, eventualmente, ele disse a Bill Bray que queria conhecer Dominic. Bill Bray arranjou para que eles passassem algum tempo juntos. Passando a se conhecerem melhor, meu pai achou Michael como sendo extremamente caloroso, gracioso e humilde. Ao mesmo tempo, eu tenho certeza que meu pai fez Michael se sentir em casa, de uma maneira que demonstrava que ela não foi desenhada para Michael por causa de seu status de celebridade. Ele não estava chocado.

As pessoas sempre foram atraídas pelo meu pai por causa de sua sinceridade. Sua maneira toda reflete o fato de que ele vê as pessoas como pessoas. Ele escuta sem julgamento e ajuda sem querer nada para si mesmo. Esse tipo de tratamento era raro no mundo de Michael, e ele começou a olhar para o meu pai como um amigo. Ele não pedia pela lista convencional de amenidades que as celebridades hospedadas solicitavam. Ele queria falar com meu pai. Para conhecê-lo como pessoa.

Meu pai não procurava tal intimidade com o VIPs que se hospedavam no hotel. Foi Michael que iniciou a amizade, e certamente meu pai estava lisonjeado, embora não tão indevidamente. A amizade cresceu e floresceu em algo que viria a ser uma vida de camaradagem, lealdade e confiança.'